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domingo, 15 de maio de 2011

Dealema, Valete - “Semana Académica do Algarve 2011”, Faro, 07/05/2011

Mais importante que a entrada do FMI, foi o concerto do Valete no passado sábado, dia 7 de Maio na Semana Académica de Faro. Quem diria? Ao fim de tantos anos, o "primeiro" concerto do Viris ser num Festival Académico e logo na "minha" zona...
A marcha dos 10.000 homens tornou-se na marcha dos 5.000 homens e mulheres, com litronas na mão, e muitos com espírito de "Sudoeste", mesmo que o número não alcançasse o prometido.
Bomberjack entra em palco com uma muito boa selecção de clássicos internacionais e nacionais para aquecer o público já muito bem aquecido por Dealema. O pentágono apresentou temas dos seus álbuns e EPs, seguindo os moldes já habituais nos concertos que têm dado por todo o país.
Bomberjack faz-se acompanhar pelo "e não é que ele voltou?" hypeman Adamastor! Terá voltado para o melhor concerto de sempre?
Guilhotina deixa-nos com uma sequência de sons mostrando que ainda está pronto para vir cá para a frente. O público reage bem e segue bem o DJ, demonstrando boa cultura hiphopiana.
Lá entra Valete com atitude punchliner! Logicamente o público vai ao rubro. Avança para a ovação, dá o peito às balas. Podemos começar.
Em palco estão Bomberjack, Valete, Adamastor e Radar. É esta a equipa que compõe a base desta próxima hora de actuação.
Valete começa em força com "A Um Passo da Glória" e aos poucos vai-se libertando e mostrando o quão satisfeito está em pisar aquele palco. Nota-se perfeitamente uma grande saudade destes momentos, agora a uma escala bem maior que também se proporcionou devido à grande ansiedade do público em ver Valete num palco, que para muitos (grande maioria dos que ali estavam) seria a primeira vez.
O MC explica a importância da palavra e da opinião própria, com um discurso coerente  e nitidamente sentido. Poderia ser contraditório que estivesse a fazê-lo num festival académico, onde há cachets incluídos, limites de tempo a fotografar, bilhetes a serem cobrados, condições de palco a serem cumpridas, mas, vejam as coisas desta forma: de que adianta gritar por mudança dentro do quarto com as portas e janelas fechadas. As pessoas têm de ouvir e, se é para ouvir que se faça ouvir ao maior número possível de pessoas e já agora com a melhor qualidade possível. Importante é, não amolecer o discurso para que isso aconteça e não me parece que isso tenha acontecido minimamente neste concerto. Palavras duras e directas, num discurso acutilante foram proferidas como mensagens de "ordem" ao longo de toda a actuação.
A segunda faixa seria " A Melhor Rima de Sempre" em que se gritou pelo Adamastor que voltou ao activo (?), pelo menos por uma noite! Toda a gente sabia a letra desta música fresca retirada da mixtape de Orelha Negra e acompanhou o MC do início ao fim, com grande power, mostrando que realmente mexeu com as ruas com alguns clássicos!
Valete tem faixas enormes, algumas sem refrão, pouco formatadas para resultar ao vivo, complexas, pouco dançáveis... Não interessou nada! Valete foi cabeça de cartaz de um sábado, num festival académico já com alguns anos e muito público fixo, responsabilidade enorme para o artista, que este, sem se dobrar soube aproveitar, e toda a situação de ansiedade pelo momento que se criou. "O Fenómeno Valete ao vivo". Algo impensável há alguns anos atrás e mesmo agora, numa altura em que o Hip Hop se encontra um pouco afastado dos grandes palcos, em que a "moda" já passou e a malta já quer é outras coisas. Aconteceu, e resultou.
Clássicos! Para um artista com o percurso do Valete, fez um concerto de clássicos, dele e dos seus convidados. Para algumas pessoas, a escolha das faixas não foi a mais correcta, para outras foi, uns queriam porradaria do princípio ao fim, acusando de levar "baladas" a mais, outros queriam menos punchline e mais musicalidade... conclusão: não se consegue agradar a todos, e num concerto destes, um artista só tem uma coisa a fazer, decidir a tracklist que englobe um pouco de tudo e estar certo que vão ficar de fora faixas que pessoas querem ouvir, mas que não há nada a fazer... é só pegar nas faixas escolhidas e dar tudo em cima do palco e convencer o público que só tem é de aproveitar o momento. A mim convenceu-me.
Para ajudar a convencer Faro, Valete segue com a acapella "Portugal".
Segue-se o refrão de Bónus, em que Valete pede para que seja prestada homenagem ao colega ausente de Canal 115 e disparam o som com o mesmo nome. Público volta ao rubro.
"Subúrbios" é a faixa seguinte, que faz com que um ambiente mais sombrio aterre no recinto, mas nem por isso Valete perde o público.
Segue-se a faixa de NBC, que sobe ao palco a convite de Valete para cantar “2ª Pele”. Experiente de palcos, tem de lidar com alguns problemas técnicos, mas juntamente com Valete e algumas bengalas bem conhecidas pelos MCs para ultrapassar estas situações mais complicadas segue o concerto e resolve-se tudo.
Já com NBC e Valete acalmar um pouco os ânimos, segue-se a faixa mais "slow" do concerto, "Mulher que Deus Amou", num registo, logicamente mais calmo que mostrou um lado mais sensível do MC.
Logo em seguida e em acapella, Valete oferece - "Quando  Há Tempo Para Seres Livre", seguindo-se outra prenda, ainda mais significativa, um som novo "No Meio das Labaredas" em que Valete canta realmente no meio das labaredas, proporcionadas pelo espectáculo  de vídeo, que acompanhou todo o concerto. Claro que o MC aproveita para falar do próximo trabalho.
Mais um pequeno intervalo para Valete, subindo ao palco, a seu convite, Orlando, que vem interpretar a sua faixa com Orelha Negra, desta vez com Bomberjack a fazer de banda. Mais uns problemas técnicos acompanharam esta música, com muita pena minha, pois tinha muita curiosidade de ouvir Orlando. Esta faixa fez-se acompanhar do vídeo. Apesar dos problemas, foi um bom momento, fresco e que valorizou o concerto de Valete, enquanto todo.
"Vampiris" é a faixa e o alter-ego que volta a palco, trata-se, talvez do som mais punchline e agressivo a nível de egotrip de todo o concerto, derrubam-se haters.
Valete introduz a próxima faixa com um discurso anti-herói, nome da próxima faixa, que já foi single do trabalho de Valete. Som marcante, que leva todo o público a seguir a letra do princípio ao fim.
Despede-se com "Roleta Russa", dos storytellings mais famosos de Valete. Tema já com algum tempo mas em que se sente que Valete consegue falar para todos. Todos no público seguiam a letra, vivendo as palavras do artista. Trata-se da despedida em que Valete anuncia não saber mais letras para o encore que já se adivinha e que já se começa a ouvir pedido.
Estava a brincar! Há encore! E é mais um storytelling, talvez a faixa mais conhecida de Valete, que curiosamente não saiu em nenhum trabalho de nome próprio. "Fim da Ditadura" fecha o concerto em grande. Faro mataria todos os que Valete indicasse. Dali podia-se seguir para a tão falada revolução. Pelo menos aquele recinto estava preparado para seguir Valete.
Valete mostrou-se muito feliz de pisar um palco em seu nome e prometeu não parar!
Texto:
Rafael Correia
Fotografia:
Natasha Cabral e Sickonce.com
H2T - www.h2tuga.net

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